Foi numa festa. Estava conversando com alguns amigos e comentei a respeito de algo que a minha psicóloga havia me dito. Um deles arregalou os olhos e disse “você tem uma psicóloga?”. Respondi tranquilamente que sim e perguntei o porquê do espanto. Ele disse que, ao ler meus textos, eu sempre pareci uma pessoa muito bem resolvida e que nunca imaginou que eu precisasse de terapia.
Acho que todo mundo que tem um psicólogo, um psiquiatra ou qualquer tipo de terapia de apoio já se deparou com uma situação dessas. Muitos se surpreendem, muitos ainda carregam velhos estigmas, acham que é frescura, acham que é exagero. Chega a ser engraçado nos depararmos com esse tipo de pensamento em 2017.
É curioso (e satisfatório) ver como todos os cuidados com o corpo estão sendo cada vez mais valorizados: exames preventivos, alimentação saudável, exercícios físicos. As pessoas têm medo de ficarem feias, velhas e doentes. Eu também tenho. Por isso nos matriculamos na academia, compramos vegetais orgânicos, reduzimos as frituras, fazemos exame de sangue, usamos filtro solar. Mas muita gente acha que isso basta. Que corpo saudável é vida saudável.
Mas nem sempre é. A cabeça faz parte do nosso corpo, as ideias fazem parte da nossa vida, as lembranças fazem parte da nossa história e os sentimentos fazem parte da gente. Não é só o neurologista quem cuida da cabeça, nem é só o cardiologista quem cuida do coração. Psicólogos e psiquiatras não são nem um pouco menos importantes do que os demais. Sim, custa dinheiro, como tudo na vida. Mas não tenho dúvidas de que, no meu caso, é um dinheiro absolutamente bem gasto.
Ainda há quem pense que é preciso estar deprimido ou descontrolado para procurar este tipo de apoio. Mas não. Você pode estar ótimo. Mas pode ficar ainda melhor. Nós não fazemos ideia de quanta coisa a gente deixa mal resolvida no nosso caminho, nem do quando elas influenciam as atitudes que temos hoje. Todas as vezes que dizemos “eu sou assim” para justificar nossos defeitos, é importante sabermos que poderíamos não ser assim. Poderíamos ser melhores e mais felizes. É, de fato, algo viável.