• 6 outubro, 2020

Depressão e ansiedade devem aumentar na quarentena; veja onde buscar ajuda.

Com mais de 12 milhões de pessoas com depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da América Latina com o maior contingente de indivíduos com o problema – são mais de 264 milhões no planeta. De acordo com um editorial publicado recentemente no periódico científico The New England Journal of Medicine, um dos mais respeitados no mundo, o número de pacientes que tem a doença deve aumentar globalmente após a quarentena devido à pandemia de Covid-19. 

Assinado pelas psiquiatras Carol North, da Universidade do Sudoeste do Texas, e Betty Pfefferbaum, da Universidade de Oklahoma, ambas nos Estados Unidos, o texto revela que já existem pesquisas mostrando que pessoas em quarentena ou na linha de frente do combate à doença, como os profissionais de saúde, vêm apresentando quadros de estresse, depressão, medo, raiva e tristeza profunda. Sem falar nos danos à saúde mental em segmentos específicos da população, como os infectados, os que fazem parte de algum grupo de risco, caso dos idosos, indivíduos com problemas psiquiátricos, além de usuários de entorpecentes.

Além da depressão e dos outros quadros a ela associados, os pesquisadores observam que a ansiedade, doença que afeta 18 milhões de brasileiros, segundo a OMS, também pode ser uma consequência desse período de isolamento. Para a psiquiatra Carol North, a falta de recursos para tratar todos os pacientes, a incerteza dos prognósticos e os prejuízos financeiros decorrentes da quarentena são os principais contribuintes para o crescimento do nível do estresse e do risco de desenvolvimento de doenças psiquiátricas associadas à Covid-19. “Há o medo de ser exposto, ficar doente e morrer, assim como o de perder amigos e parentes. Como efeitos secundários há os problemas econômicos. 

Para Melina Blanco Amarins, psicóloga do Hospital Israelita Albert Einstein, além do temor de ficar em apuros financeiros e mal de saúde, o grande volume de notícias pode gerar maior tensão. “É importante que as pessoas tenham informação sobre o que está acontecendo, mas sem excesso. O ideal é buscar fontes seguras, uma ou duas vezes ao dia, para não ter uma sobrecarga e, de quebra, um aumento da ansiedade e do medo”, diz a psicóloga.

Em outras epidemias, como a de SARS, na China, e de Ebola, no oeste africano, também foi registrado um aumento de casos de suicídio, depressão e ansiedade, revela artigo de Karestan Koenen, professora de epidemiologia psiquiátrica na Universidade Harvard, também nos Estados Unidos. Postado no site da instituição, o texto ressalta que, além das doenças que afetam nossa saúde mental, deve-se observar e tomar medidas frente ao preconceito e à intolerância contra infectados e populações como os asiáticos. Ações semelhantes às que visam dar cabo do bullying em crianças podem ajudar a reduzir a ocorrência desse tipo de comportamento.

Além disso, Karestan enfatiza a importância de os pais estarem atentos aos filhos, já que eles podem ter uma reação diferente ao isolamento. Para mitigar os efeitos, a pesquisadora sugere que os pequenos mantenham a rotina o mais próximo possível do normal e minimizem o contato com a avalanche de notícias e informações sobre a pandemia. “Crianças aprendem com seus pais. Mostrando a elas como se manter calmo durante a pandemia, vai ensiná-las a gerenciar o próprio estresse”, preconiza.

No Brasil, pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) fizeram um estudo com cerca de 1460 pessoas usando uma triagem psicológica online. A incidência inicial de depressão e ansiedade era de 4% a 5%. Esses números dobraram em apenas 20 dias. O trabalho mostrou que, além dos grupos de risco para a Covid-19, as mulheres também são mais suscetíveis ao desenvolvimento desses transtornos psiquiátricos.

Essa rápida evolução do esgotamento mental coloca os profissionais da saúde em estado de alerta, já que, além do crescimento do número de casos, uma pesquisa australiana mostra que o Brasil é um dos países com piores índices de estresse causados pela Covid-19, na frente da Índia e da China, que possuem mais de 1 bilhão de habitantes. O estudo mostrou que 52% dos brasileiros que participaram do estudo já apresentam um quadro leve ou moderado de estresse e 18%, severo. Outro dado importante é que o nível de desconforto aumentava mediante a distância que o paciente se encontrava da cidade de São Paulo, epicentro da doença, mas que ao mesmo tempo é nosso polo médico mais importante.

Como minimizar esses problemas?

Carol North aponta que uma das opções seria treinar os profissionais da saúde para avaliar psicologicamente os pacientes com a doença para saber se há fatores de estresse, com o receio de contaminação familiar. Por outro lado, os governos e hospitais devem estar atentos a sinais de problemas em seus funcionários e colaboradores, especialmente aqueles que estão combatendo diretamente a Covid-19. No entanto, a pesquisadora ressalta que a maioria das pessoas não desenvolverá a doença e grande parte das que foram acometidas conseguiram se recuperar.

Segundo Karestan Koenen, um ponto positivo que pode emergir dessa pandemia é o maior uso e aceitação da telemedicina. “Será difícil voltar para o consultório. Para algumas pessoas, o uso da tecnologia fez com o acompanhamento psicológico fosse mais acessível”

Buscar atividades prazerosas, refletir sobre seus desejos e projetos de vida, passar mais tempo com sua família, aprender algo novo, praticar exercícios, meditação, ler um livro, fazer um curso online, falar com as pessoas por videoconferência podem ajudar a diminuir o estresse e a ansiedader3″, aconselha Melina Blanco Amarins. “Deve ser criada uma rotina em que podem ser descobertos novos prazeres ou retomar outros, visto que com a correria do dia a dia as pessoas não tinham tempo para refletir sobre seus desejos”, completa a psicóloga.

Fonte: Viva Bem – 20/07/20

Fonte: Flowing