• 6 março, 2021

Por que todo mundo ganha quando as mulheres entendem de dinheiro?

Desde 2012, quando lancei o Finanças Femininas, ouço de tempos em tempos a mesma pergunta: “Mas por que falar de dinheiro só para mulheres?”.

Ela faz sentido – afinal, produtos e serviços financeiros não têm gênero e todos nós teremos, em algum momento, que lidar com dúvidas sobre investimentos, cartão de crédito, planejamento para aposentadoria e assim por diante.

Por que então criar uma plataforma de educação financeira para mulheres? Eu explico: nossas histórias são diferentes (as mulheres começaram a ganhar seu próprio dinheiro e ter a responsabilidade de geri-lo apenas a partir do final dos anos 1960). Nossos contextos são diferentes (vivemos em um mundo de desigualdade salarialdesigualdade patrimonialpink tax…). E nossa relação com dinheiro também é muito diferente.

Basta lembrar como o papel econômico da mulher na sociedade mudou no último século. Deixamos de ser apenas consumidoras para nos tornarmos geradoras de riqueza e investidoras em pouco tempo. Eu costumo brincar que o mercado financeiro foi “criado à imagem e semelhança do homem” e nós, mulheres, chegamos para participar desta história há pouco tempo.

A história mudou. Hoje, a participação das mulheres no mercado financeiro vem crescendo de forma cada vez mais acelerada. No ano de 2020, quando vimos uma explosão na quantidade de novos investidores na B3, o número de CPFs femininos mais do que dobrou, com um crescimento de 118% – contra um avanço de 84% nos cadastros masculinos. As mulheres representam atualmente 26% do total de investidores – a maior proporção da história.

E esta é uma conquista que deve ser celebrada por todos nós – homens e mulheres. É muito fácil encararmos esta transformação da sociedade como uma discussão feminina. O feminismo, afinal, sempre foi uma questão das mulheres, certo?

Errado. A igualdade beneficia a todos. Um país onde homens e mulheres têm o mesmo potencial salarial e no qual todos sabem cuidar do seu dinheiro e investir é um país mais rico. Famílias onde reina a igualdade salarial são mais prósperas – e até as brigas por dinheiro diminuem. Um estudo realizado pelo banco de investimentos UBS mostrou que 93% dos casais que dividem a gestão financeira a dois dizem cometer menos erros.

Empresas com políticas claras de diversidade tendem a ser mais lucrativas e terem melhores ratings. Levantamento da consultoria McKinsey revelou que companhias com maior diversidade de gênero têm 21% mais chances de ter resultados acima da média do mercado, enquanto pesquisa realizada pela agência de ratings Moodys encontrou uma clara correlação entre empresas que possuem mulheres nos conselhos e notas de crédito superiores.

Todos ganham mesmo – a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem uma pesquisa que mostra que o PIB global anual ganharia US$ 28 trilhões com a plena igualdade salarial entre homens e mulheres.

A cereja do bolo é o estudo da OCDE que fundamentou a minha visão sobre a importância da educação financeira para mulheres. O levantamento mostrou que para uma iniciativa de educação financeira dar certo, ela precisa ser segmentada. Um modelo único para todos não funciona – e os dois públicos que mais têm necessidade são crianças e mulheres. As mulheres são citadas não apenas por todos os motivos históricos e culturais que citei até aqui, mas também pelo fato de que são multiplicadoras. Quando aprendem a cuidar do seu dinheiro, levam este conhecimento para suas famílias, amigas, comunidade. São as mulheres que educam as próximas gerações.

Foi com esta visão que fundei o Finanças Femininas, há oito anos. Desde então, trabalho para promover a educação financeira de mulheres com a visão clara de que esta é uma ferramenta para que consigam construir a sua independência e autonomia.

Ainda temos um longo caminho a percorrer – e precisamos de cada vez mais aliados e multiplicadoras. Vamos juntos?


Fonte: Flowing