• 2 julho, 2019

É preciso abrir a cabeça e sair do emprego tradicional

As dicas de Mórris Litvak, do MaturiJobs, para reinventar a carreira na maturidade

Se as pessoas têm experiência e vontade de trabalhar aos 50, 60, 70 anos, por que elas não estão na ativa? Intrigado com essa questão, Mórris Litvak, de 36 anos, criou o site MaturiJobs, que desde 2016 ajuda profissionais “maturi” — o termo que ele criou para quem tem mais de 50 anos — a encontrar vagas oferecidas pelas empresas.

Em 2019, ele deu um passo além e desenvolveu outra plataforma, a MaturiServices, para empreendedores e profissionais oferecerem os seus serviços ao público. A previsão é de que o site esteja no ar em julho, quando Mórris estará na Unibes Cultural, capitaneando um curso para ajudar quem tem mais de 50 anos a repensar a sua carreira e se preparar para empreender (saiba mais aqui). “O foco é na reinvenção profissional. Não é só para abrir um negócio, é para abrir a cabeça para sair do emprego tradicional”, diz o empreendedor, nesta entrevista ao Viva a Longevidade.

Por que as pessoas estão repensando o trabalho após os 50?
Hoje está difícil para qualquer um conseguir emprego, inclusive para os jovens. Mas além desse contexto econômico complicado, existe uma cultura de que a pessoa fica invisível para o mercado de trabalho quando chega aos 50 anos — e às vezes até antes. Só que, com a perspectiva de viver mais, elas ainda têm metade da vida pela frente. Estão ativas, têm energia, têm experiência, mas não conseguem emprego. O que fazer? As pessoas foram educadas para ter um emprego por toda a vida, por isso ficam perdidas a partir do momento em que saem da vida corporativa. Empreender ou ser freelancer ainda não é tão natural. Mas temos visto uma tendência muito forte de trabalho cada vez mais autônomo nos Estados Unidos e na Europa. Não é desapegar só de um modelo de emprego, mas também da sua profissão. Por que não pensar em alguma coisa completamente nova?

Por onde começar essa reinvenção profissional?
A primeira coisa, fundamental, é o autoconhecimento. Às vezes as pessoas acham que isso é besteira, especialmente os homens, que têm um preconceito com esse movimento de olhar para dentro, de entender o que faz sentido, o que está limitando a dar um passo diferente. É preciso entender o que você gosta de fazer, ver para onde ir e buscar atualização e capacitação. Por mais experiente que você seja, nunca vai saber tudo. Tem que ter a humildade de saber desaprender para aprender. Deixar de lado várias coisas que você sabe, para assimilar coisas novas. A experiência de vida faz diferença, mas às vezes as coisas técnicas já não funcionam mais da mesma maneira ou estão deixando de existir. Tem que estar muito aberto para aprender com os jovens. Sair de casa, fazer networking, conhecer gente.

Isso também vale pra quem ainda não chegou aos 50?
Totalmente. Pode ser que o que você está fazendo hoje, e adora, daqui a cinco anos não tenha tanta importância, e você esteja fazendo uma coisa completamente diferente. Então é importante já ter a mente aberta para isso e estar sempre se atualizando, além de se preparar financeiramente. As pessoas têm que ter um planejamento de longo prazo, pensar em onde querem estar aos 60, 70 anos, entendendo que muita coisa vai mudar até lá.

Você acha que empreender é algo que se aprende?
Empreender não é um talento nato, pelo contrário. Você pode aperfeiçoar. Todo mundo pode aprender a ser empreendedor, basta conhecer as ferramentas, começar a validar, buscar os parceiros certos. É besteira ter um bloqueio e dizer “não, isso não é para mim”. Essa atitude vai fechar um monte de portas, não vale a pena. Num primeiro momento, as pessoas pensam em empreender com algo que já fazem, mas nem sempre isso é possível ou viável. Então a gente tenta mostrar outros caminhos, apresentando outras pessoas, porque, nessa troca, você pode descobrir que o seu conhecimento pode servir para algo que não tem nada a ver com o que você fazia, e aí você se abre mais para coisas diferentes. Vê que tem oportunidade de trabalhar com alguma coisa de que gosta, mas com qual nunca pensou em trabalhar.

Quais são as maiores dificuldades que os 50+ sentem para empreender?
As pessoas têm muita dificuldade de se vender, saber precificar. Como muitas foram educadas para ter um emprego, existe muita aversão ao risco, até porque muitas dessas pessoas estão usando suas economias, e têm dificuldade de investir por medo de ficar sem dinheiro. Mas não precisa ter essa trava financeira. Muita gente tem essa ideia de que precisa investir muito dinheiro para empreender, mas dá para começar sem ou quase nada, como é com as startups. Elas criam um protótipo e o testam no mercado. Ou seja, o empreendedor pode criar um site em plataformas gratuitas, divulgar a sua empresa nas redes sociais e começa a validar.

Qual é a importância de se atualizar com as tecnologias?
Hoje, dificilmente dá para empreender sem estar no mundo digital. É quase impossível ter qualquer tipo de negócio, por mais tradicional que ele seja, sem usar tecnologia. Até uma barraquinha de praia precisa de uma máquina de receber pagamentos. Qualquer empresa precisa estar nas redes sociais. Quem tem mais de 50, em geral, tem mais dificuldade com isso. Não é só pela idade, é porque esse profissional pode ter ficado décadas dentro de uma grande empresa, fechado naquela caixinha com toda a estrutura, e não precisava se reciclar nem aprender coisas diferentes. E daí vem esse estigma de que “tecnologia não é para mim”, mas isso é muito mais psicológico. Quem tenta, consegue, porque a tecnologia hoje é muito mais acessível e intuitiva.

Empreender pode ser, então, uma maneira de colocar o seu sonho em prática?
Com certeza. Empreender é uma maneira de fazer algo de que você sempre gostou, mas nunca achou que fosse possível trabalhar com isso. Sem dúvida é uma ótima oportunidade buscar um novo caminho e fazer alguma coisa que lhe dê até mais prazer do que o que você fazia antes.

Nesse sentido, a reinvenção pode ser uma coisa positiva…
Tem que ser. Às vezes, parece ser dolorosa, e pode ser, mas para quem se jogar de cabeça nesse processo, ela vai ser superpositiva, porque essa pessoa vai entender que tem tanta coisa legal para ser feita, e tem tanta oportunidade… Isso traz um outro ânimo, melhora a autoestima.

FONTE: Viva Longevidade

Fonte: Flowing