Costumo dizer que solidão é diferente de solitude, e que a curiosidade e a alegria pela vida são frutos da autovalorização
No universo fantasioso – e delicioso – das comédias românticas, o esquema é sempre mais ou menos o mesmo. A moça (ou o rapaz) vive um problema, cai num conto do vigário, sofre um revés na sua vida e no seu namoro. Mas o destino, que em geral é malvado no início do filme, acaba revertendo a situação e o rapaz (ou a moça) termina num beijo apaixonado e a promessa de um “felizes para sempre”. Fórmula irresistível para as audiências sonhadoras.
Sim, uma fantasia.
Quem já teve envolvimentos mais longos no campo do afeto, que ultrapassaram a fase da paixão, sabe que os relacionamentos requerem um trabalho dedicado, diário, delicado, incessante.
São parte importante da vida, gratificantes, mas sua essência passa longe do algodão-doce dessa fantasia. E isso me leva a um ponto muito importante na minha maneira de ver a vida – a beleza de cultivar a solitude.
Podemos estar absolutamente sós e curtindo a nossa própria companhia.
Veja bem, não estou falando da solidão. Essa é uma distinção fundamental, que reside em nosso coração e na autoestima.
Afinal, o que é solitude?
Solitude seria a satisfação por estar em companhia de si mesmo. Podemos estar absolutamente sós e valorizarmos a nossa própria companhia. Estamos plenos de ideias, curiosidade, relaxamento, esperança.
Já a solidão pode nos abater mesmo em grupo, em família… … mesmo na multidão.
E por que essa diferença?
A diferença está dentro da gente.
O segredo é valorizar a vida interior, aproveitar para aprender e descobrir, abrir os olhos para diferentes pontos de vida, para a arte, para a filosofia. Enriquecer a vida, fortalecer o espírito.
A capacidade de dar e receber afeto depende, e muito, do cultivo da nossa vida interior.
Não pense que estou aqui advogando uma vida sem parcerias: muito pelo contrário!
Mas sei que para um relacionamento humano ser verdadeiro e gratificante, é preciso que a gente tenha primeiro um bom relacionamento com nós mesmos.
Assim, não estaremos sozinhos, mas estaremos “solo”, como se diz em música: protagonistas da nossa própria história, cantando, orgulhosos, a nossa própria canção. Escolhendo os relacionamentos por desejo e não por dependência.
Tenho amigas que viajam sozinhas – eu mesma, aliás, já viajei sozinha, andei por lugares descobrindo cada pedacinho do meu eu interior, sentindo que a minha mente e o meu coração estavam em harmonia.
Claro que um sorriso amistoso, um gesto cordial, um acenar de cabeça positivo me dava um incentivo a mais. Eles me mostravam um outro lado de pessoas desconhecidas, mas que, de alguma forma, entravam em contato comigo, pois estávamos percorrendo o mesmo caminho.
Sugiro ir a lugares de peregrinação ou de meditação e sentir o som do silêncio que habita, harmoniosamente, o nosso coração!
Enfim, é desse jeito que entendo a saúde da convivência com cônjuges, familiares, amigos, colegas: trabalhando para a alegria de estar consigo mesmo e, assim, poder dar e receber o melhor da gente, por uma opção: a de sermos felizes.
Para sempre!
FONTE: Viva a Longevidade, Márcia Peltier
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