Passamos cerca de um terço de nossa vida dormindo, e há motivo para isso. O sono não apenas nos dá uma oportunidade de descansar, mas também é regenerativo. Ele facilita processos fisiológicos que restauram o corpo e a mente. A falta de sono está ligada a problemas de saúde diversos: desde hipertensão até transtornos de saúde mental.
Os custos desse mal são altos. Apenas nos Estados Unidos, estima-se que as empresas têm de arcar com mais de US$ 90 bilhões anualmente com perdas causadas pela insônia. Ela é responsável por 7% de todos os erros e acidentes causados em ambientes de trabalho e por 24% dos custos relacionados a eles. É a condição médica com maior proporção de responsabilidade por esses custos. A performance dos colaboradores, claro, é seriamente afetada pela falta de sono. Ainda falando dos EUA, a insônia faz com que cada pessoa colaboradora perca 11,3 dias de trabalho.
Especialmente durante a pandemia, o sono das pessoas foi afetado. Uma pesquisa realizada em 2021 pela Royal Philips, com 13 mil adultos em 13 países, incluindo o Brasil, mostrou que 74% dos respondentes estão com problemas de sono. Metade deles (50%), afirmou que a pandemia foi a responsável por essas dificuldades. Bastante preocupante é a quantidade de pessoas que declararam acordar no meio da noite: 47%.
As mulheres são mais afetadas que os homens. Dentre elas, foi maior o número de pessoas que responderam que haviam desenvolvido novas dificuldades para dormir: 79%, contra 68% dos homens. A proporção de mulheres que relataram ter insônia (52%) também é superior a de homens: 40%. O impacto da pandemia também foi maior no sono delas do que no deles: 53% contra 43%.
Quando os pesquisados são funcionários de empresas brasileiras, os resultados também mostram o impacto da pandemia no sono. Quase metade (47%) dos profissionais brasileiros informou ter problemas de sono. Um terço deles (32%) disse que está sofrendo com esgotamento mental e estresse.
Os mais jovens são os mais impactados. Funcionários com até 17 anos e os que têm entre 18 e 26 anos são os que mais relatam problemas de sono. Isso se confirma quando os números são observados de acordo com os cargos. Os trainees e estagiários são os que mais afirmam estar dormindo mal: 54% e 48%, respectivamente.
Apesar do grande número de funcionários relatando problemas para dormir, a maioria dos entrevistados considera que tem boa saúde (64,8%). Uma parte menor (20,1%) afirmou ter problemas eventuais de saúde. Segundo especialistas, a disparidade nos números se deve a uma visão compartimentada da saúde. Geralmente, não se considera o sono como algo essencial, apesar de todas as implicações de saúde que ele pode ter.
Os cientistas já sabem que dormir pouco tem relação com uma expectativa de vida menor, com o aumento do risco de diabetes e do desenvolvimento do Alzheimer, afeta a pressão arterial, pode causar aumento do peso, e está relacionado a uma maior propensão a desenvolver transtornos de saúde mental como a depressão.
No caso da saúde mental, costumava-se acreditar que os transtornos causavam problemas de sono. Embora isso continue sendo verdade, hoje sabemos que a falta de sono também pode ser também a causa deles.
Nosso sono é composto por ciclos de cerca de 90 minutos. Eles, por sua vez, têm fases em que diferentes coisas acontecem. Cada ciclo de sono tem duas fases básicas: uma mais profunda e outra, chamada de REM (rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos), quando sonhamos.
Durante o sono profundo, a temperatura do corpo e os batimentos cardíacos diminuem, os músculos relaxam e respiramos mais lentamente. Nessa fase, o corpo promove diversos processos regenerativos que, entre outras coisas, fortalecem nosso sistema imunológico.
Na fase REM acontecem os sonhos. O mais curioso desse estágio é que os sinais vitais e cerebrais da pessoa são muito parecidos com os de quando ela está acordada. Neurocientistas, ao observar o cérebro, perceberam que vivenciamos o sonho como se fosse uma simulação da realidade. Por isso, o sono REM ajuda no aprendizado, memória e na saúde mental.
Por isso, qualquer alteração no sono tem o potencial de causar danos à nossa saúde. Pesquisas mostram que pessoas com problemas para dormir têm níveis prejudicados nos hormônios de estresse e neurotransmissores. Isso afeta seriamente a capacidade de o cérebro fazer regulação emocional. É por esse motivo que hoje sabemos que transtornos mentais causam problemas no sono — e que o sono pode ter um papel importante nesses transtornos.
Dados mostram que entre 65% e 90% das pessoas com depressão têm também problemas de sono; uma grande parte destas sofre com insônia. Ela, aliás, aumenta as chances de alguém desenvolver depressão. Um estudo mostrou que esse risco aumenta em até quatro vezes.
Mais de 50% dos adultos com transtorno de ansiedade generalizada enfrentam problemas para dormir. Um estudo feito com adolescentes mostrou que 27% das pessoas jovens que tiveram um transtorno de ansiedade tiveram antes problemas de sono. O mesmo ocorreu no caso da depressão para 69% das pessoas pesquisadas.
No mundo em que vivemos, infelizmente, dormir bem é um privilégio, mas deveria ser direito de todos. Trabalhar em excesso, enquanto os outros dormem, não deveria ser visto como algo louvável: trata-se de algo preocupante, especialmente quando sabemos o quando a falta de sono pode prejudicar a saúde e qualidade de vida.
Fonte: Vitalk
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