• 15 setembro, 2022

Como a falta de sono pode afetar a produtividade no trabalho?

Não é incomum ouvir dizer que dormir “é para os fracos”. Uma busca rápida na Internet mostra dezenas de memes, frases e textos com o mesmo argumento: para alcançar seus objetivos, tudo deve ser sacrificado, incluindo o sono. A ciência, no entanto, cada vez mais desmente esse pensamento do senso comum.

Passamos cerca de um terço de nossa vida dormindo, e há motivo para isso. O sono não apenas nos dá uma oportunidade de descansar, mas também é regenerativo. Ele facilita processos fisiológicos que restauram o corpo e a mente. A falta de sono está ligada a problemas de saúde diversos: desde hipertensão até transtornos de saúde mental. 

Os custos desse mal são altos. Apenas nos Estados Unidos, estima-se que as empresas têm de arcar com mais de US$ 90 bilhões anualmente com perdas causadas pela insônia. Ela é responsável por 7% de todos os erros e acidentes causados em ambientes de trabalho e por 24% dos custos relacionados a eles. É a condição médica com maior proporção de responsabilidade por esses custos. A performance dos colaboradores, claro, é seriamente afetada pela falta de sono. Ainda falando dos EUA, a insônia faz com que cada pessoa colaboradora perca 11,3 dias de trabalho. 

Especialmente durante a pandemia, o sono das pessoas foi afetado. Uma pesquisa realizada em 2021 pela Royal Philips, com 13 mil adultos em 13 países, incluindo o Brasil, mostrou que 74% dos respondentes estão com problemas de sono. Metade deles (50%), afirmou que a pandemia foi a responsável por essas dificuldades. Bastante preocupante é a quantidade de pessoas que declararam acordar no meio da noite: 47%. 

As mulheres são mais afetadas que os homens. Dentre elas, foi maior o número de pessoas que responderam que haviam desenvolvido novas dificuldades para dormir: 79%, contra 68% dos homens. A proporção de mulheres que relataram ter insônia (52%) também é superior a de homens: 40%. O impacto da pandemia também foi maior no sono delas do que no deles: 53% contra 43%. 

Quando os pesquisados são funcionários de empresas brasileiras, os resultados também mostram o impacto da pandemia no sono. Quase metade (47%) dos profissionais brasileiros informou ter problemas de sono. Um terço deles (32%) disse que está sofrendo com esgotamento mental e estresse. 

Os mais jovens são os mais impactados. Funcionários com até 17 anos e os que têm entre 18 e 26 anos são os que mais relatam problemas de sono. Isso se confirma quando os números são observados de acordo com os cargos. Os trainees e estagiários são os que mais afirmam estar dormindo mal: 54% e 48%, respectivamente.

Apesar do grande número de funcionários relatando problemas para dormir, a maioria dos entrevistados considera que tem boa saúde (64,8%). Uma parte menor (20,1%) afirmou ter problemas eventuais de saúde. Segundo especialistas, a disparidade nos números se deve a uma visão compartimentada da saúde. Geralmente, não se considera o sono como algo essencial, apesar de todas as implicações de saúde que ele pode ter. 

E que impactos a falta de sono pode ter na saúde? Mais especificamente, na saúde mental?

Os cientistas já sabem que dormir pouco tem relação com uma expectativa de vida menor, com o aumento do risco de diabetes e do desenvolvimento do Alzheimer, afeta a pressão arterial, pode causar aumento do peso, e está relacionado a uma maior propensão a desenvolver transtornos de saúde mental como a depressão. 

No caso da saúde mental, costumava-se acreditar que os transtornos causavam problemas de sono. Embora isso continue sendo verdade, hoje sabemos que a falta de sono também pode ser também a causa deles. 

Nosso sono é composto por ciclos de cerca de 90 minutos. Eles, por sua vez, têm fases em que diferentes coisas acontecem. Cada ciclo de sono tem duas fases básicas: uma mais profunda e outra, chamada de REM (rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos), quando sonhamos. 

Durante o sono profundo, a temperatura do corpo e os batimentos cardíacos diminuem, os  músculos relaxam e respiramos mais lentamente. Nessa fase, o corpo promove diversos processos regenerativos que, entre outras coisas, fortalecem nosso sistema imunológico.

Na fase REM acontecem os sonhos. O mais curioso desse estágio é que os sinais vitais e cerebrais da pessoa são muito parecidos com os de quando ela está acordada. Neurocientistas, ao observar o cérebro, perceberam que vivenciamos o sonho como se fosse uma simulação da realidade. Por isso, o sono REM ajuda no aprendizado, memória e na saúde mental.

Por isso, qualquer alteração no sono tem o potencial de causar danos à nossa saúde. Pesquisas mostram que pessoas com problemas para dormir têm níveis prejudicados nos hormônios de estresse e neurotransmissores. Isso afeta seriamente a capacidade de o cérebro fazer regulação emocional. É por esse motivo que hoje sabemos que transtornos mentais causam problemas no sono — e que o sono pode ter um papel importante nesses transtornos. 

Dados mostram que entre 65% e 90% das pessoas com depressão têm também problemas de sono; uma grande parte destas sofre com insônia. Ela, aliás, aumenta as chances de alguém desenvolver depressão. Um estudo mostrou que esse risco aumenta em até quatro vezes. 

Mais de 50% dos adultos com transtorno de ansiedade generalizada enfrentam problemas para dormir. Um estudo feito com adolescentes mostrou que 27% das pessoas jovens que tiveram um transtorno de ansiedade tiveram antes problemas de sono. O mesmo ocorreu no caso da depressão para 69% das pessoas pesquisadas. 

No mundo em que vivemos, infelizmente, dormir bem é um privilégio, mas deveria ser direito de todos. Trabalhar em excesso, enquanto os outros dormem, não deveria ser visto como algo louvável: trata-se de algo preocupante, especialmente quando sabemos o quando a falta de sono pode prejudicar a saúde e qualidade de vida. 

Fonte: Vitalk

Fonte: Flowing