• 17 fevereiro, 2018

Comer Consciente X Comer Restritivo

O Comer Consciente Frente Ao Comer Restritivo

A fórmula atual das dietas restritivas para o emagrecimento, seja restrição calórica ou exclusão de todo um grupo alimentar estressa seu corpo e seu cérebro, desregula seu centro de fome e saciedade, predispõe distúrbios alimentares e distúrbios de imagem corporal. As dietas restritivas, ainda, estão ligadas a pior saúde mental predispondo à depressão e à ansiedade.

Um estudo de 2015 King’s College London chegou a seguinte conclusão:

“A chance de uma pessoa obesa atingir peso corporal normal é de 1 em 210 para homens e 1 em 124 para mulheres, diminuindo para 1 em 1.290 para homens e 1 em 677 para mulheres com obesidade grave. Os resultados, publicados no American Journal of Public Health, sugerem que os programas de controle de peso atual com foco na dieta e exercício não são eficazes na luta contra a obesidade a nível populacional.”

Logo, segundo essa pesquisa a chance de uma pessoa obesa emagrecer é 0,5%, caso a obesidade esteja classificada em graus I e II (IMC acima de 25 até 40) e 0,14% já ela tiver obesidade grau III (IMC>40).

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 95% das pessoas que fazem dieta e conseguem emagrecer reganham todo o peso ou mais em apenas 5 anos.

Essa imagem é proveniente do estudo populacional chamado “Carga global de Doença”  no qual estiveram envolvidos 1.600 pesquisadores de 120 países. Chamamos atenção para o número ZERO presente na imagem. ZERO foi o número de países que conseguiram diminuir a obesidade ao longo dos últimos 33 anos.

Estas informações podem parecer estar ligadas a uma falta de perspectiva quanto aos rumos das propostas e condutas de solução para a epidemia de obesidade, porém, a intenção do alerta para esses números é conscientizar as pessoas que estão acima do peso a fim de que não mais carreguem sozinhas a CULPA por não estar emagrecendo. Afinal, caso existisse algum culpado , este seria o sistema atual de “combate” a obesidade que demonstra, por diversas evidências, a necessidade de ser repensado. Somado ainda ao aumento da valorização dos alimentos altamente industrializados e a inatividade que advém do estilo de vida frenético focado no trabalho exaustivo.

Este texto foi escrito para que você descubra alguns dos principais motivos do porquê as dietas não funcionam.

1. Porquê estressa o corpo e o cérebro

A verdade é que o corpo não gosta que mexam com ele.

Emagrecer é bom para a saúde, porém o processo de perda de peso é um trabalho a mais que seu corpo terá que realizar. Você sabe como o emagrecimento acontece? Para onde vai a gordura quando você emagrece? Segundo uma descoberta recente publicada no British Medical Journal em 2014 “a gordura acumulada é usada como fonte de energia pelo organismo. Para isso, ela é dividida em moléculas de oxigênio, hidrogênio e carbono. Quando queimado, o oxigênio se transforma em energia, liberando dois subprodutos: o dióxido de carbono (CO2) e água. O CO2 é eliminado pelos pulmões, e a água excretada na urina, fezes, suor, respiração, lágrimas e outros fluidos corporais”.

Para uma pessoa perder 10kg de gordura precisa inalar 29kg de oxigênio e este processo metabólico produziria 28kg de CO2 e 11kg de água. Este estudo ainda demonstrou que 70% dos médicos, nutricionistas e personal trainers não sabiam para onde ia a gordura quando as pessoas emagreciam.

Além disso as células de gordura armazenam diversas substâncias que serão lançadas na corrente sanguínea quando forem usadas como energia; grandes perdas de peso levam comumente a formação de cálculos biliares, ou mais conhecidas como pedras na vesícula e ainda, perder peso rápido é tão sério que existe o risco de hepatite gordurosa não alcoólica.

Novamente reforçando: o resultado final de uma dieta, que é emagrecer, é bom para a saúde, porém o processo exigirá recursos de seu corpo, ou seja, as dietas estressam o corpo.

Um exemplo prático para entendimento

O corpo irá responder à dieta tentando mobilizar diversos recursos para barrar essa perda de peso. Imagine o seguinte: uma pessoa foi contratada para gerenciar toda uma empresa, sendo que todos os recursos são próprios. Em determinado momento, o seu contratante resolve que além de cortar seus recursos, irá mandar o triplo de trabalho para você dar conta. Não um trabalho qualquer mas um trabalho no qual os funcionários terão que se desviar de suas tarefas habituais para fazer as novas tarefas. Soma-se a isto o fato de que as novas atribuições não são habituais e os funcionário teriam que ”resolver diversos novos problemas” que se forem deixados para depois prejudicarão a empresa. Provavelmente,  tais funcionários não ficariam felizes de passar por esse período com trabalho extra por muito tempo.

Pensando no corpo, nos sistemas, nos processos metabólicos envolvidos para que ocorra o emagrecimento, podemos extrapolar associando ao exemplo: Um corpo que passe uma vida toda exposto a restrição alimentar, não poderá se manter saudável por muito tempo em função de  todo o estresse causado fisiologica e mentalmente.

Assim, o corpo, o cérebro e os genes irão começar uma operação conjunta para frear as resultantes da restrição alimentar:

Diminuindo o metabolismo basal, com o objetivo de gastar menos energia, para frear o emagrecimento
Alterando a regulação da fome e a saciedade, para que o indivíduo coma mais e tenha mais vontade de comer alimentos de alta densidade calórica
Ativando uma cascata genética, que permanecerá ativa por cerca de dois anos, que coloca o corpo no modo armazenamento

Por isso, fazer e se manter na dieta restritiva é tão desafiador. Longe de ser por falta de força de vontade, falta de fé e falta de foco como o que é largamente divulgado nos veículos de comunicação,não conseguir seguir uma dieta, na verdade, é fisiológico!

2. Porque causam sentimento de culpa e mal estar

Quando pessoas resolvem fazer dieta estão, em geral, preocupadas e se sentindo mal sobre a sua saúde e sua aparência. Com alto grau de sofrimento psicossocial pelas roupas que não servem, o número que não agrada na balança, o padrão normativo que não é visto no espelho.

Todas as vezes que se vestem enviam mensagens de mal estar ao cérebro. A cada “escapada” da dieta se sentem o culpadas e com vergonha.

A conclusão do cérebro será  “estou mesmo em perigo” o que reforçará todos os mecanismos expostos no começo dessa reflexão: metabolismo basal diminuído, genes de reganho de peso ligados e fome aumentada.

Os indivíduos em dietas restritivas começam a viver uma torrente de emoções não produtivas que pioram seu estado de saúde mental. Passam a ter mais chance de desenvolver depressão e ansiedade.

O estigma da obesidade pode permear a vida dos indivíduos. Fazendo com que indivíduos fora do peso ideal possam sentir que merecem menos respeito por estarem obesos, reduzam sua estima, diminuam sua motivação para o cuidado pessoal e sejam pessoas menos satisfeitas com a vida.

3. Porque focam em Controlar o que não é possível

Uma grande parte do controle dos cuidados com a saúde, essenciais para quem busca emagrecer, em maior ou menor grau, costumam estar ao alcance de todos os indivíduos.

É possível controlar o quanto se permanece ativo, a qualidade alimentar do que se consome, a quantidade de descanso e sono. Ainda, se pode cuidar do gerenciamento do estresse e proporcionar uma quantidade ideal de lazer para manter-se bem e equilibrada emocionalmente.

O “pensamento dieta” porém, se baseia na falsa premissa de que o corpo é uma máquina matemática em que se pode interferir facilmente  visando controlar  o que não está ao alcance do indivíduo.  Metas como “emagrecer 5 kg até a próxima consulta” não deveriam ser usadas para avaliar se um indivíduo seguiu ou não a tal dieta prescrita.

Não há, de maneira nenhuma, como garantir que se alguém seguir uma dieta 100% vai emagrecer o que foi proposto. Porque? Porque pessoas não queimam alimentos, pessoas digerem a comida e o metabolismo do corpo é muito complexo e influenciado por muitas variáveis.

A restrição alimentar das dietas funcionam como uma privação mental e física que aumentam o impulso para comer, podendo levar os indivíduos a episódios de comer demais, o que, em geral, será seguido de culpa e vergonha, realimentando então o comer emocional que visa aliviar esses sentimentos perpetuando os ciclos de dieta e restrição.

5. Porque faz você engordar mais depois

Depois de uma dieta restritiva a tendência é que seu corpo tente voltar ao status pré dieta. É o cérebro que decide o peso, há um “termostato” no cérebro que é o responsável por manter a faixa de peso pré-definida como correta. Para prevenção, o cérebro pode regular esse termostato um pouco para cima para garantir que você tenha mais peso caso ocorra uma nova temporada de restrição de nutrientes.

Não é incomum pessoas iniciarem uma dieta para emagrecer 5kg e gradativamente, vão ficando mais pesadas no fim de cada temporada e depois de 10 anos estão com muito mais de 5kg além de seu peso ideal.

DIETAS RESTRITIVAS NÃO FUNCIONAM A LONGO PRAZO

A restrição alimentar leva a uma relação deturpada com o corpo, com a comida e consigo mesmo.

Como sugestão, assista o TED da neurocientista Sandra Aamodt  abaixo, no qual “a partir de sua história pessoal trazer uma lição importante sobre como nosso cérebro controla nosso corpo, ao explorar a ciência por trás do porquê fazer dieta não só não funciona, como também pode fazer mais mal do que bem. Ela dá dicas de como viver uma vida menos obcecada por dietas, de forma intuitiva.”

Então o que que se pode fazer para restabelecer uma relação saudável com o corpo e com a comida?

Na contramão do que diz o senso comum, há como estar no controle da saúde, mesmo com obesidade ou com sobrepeso, porém foco não deve ser perder peso, e sim de ganhar saúde, de encontrar maneiras de ficar bem. Se trata de cuidar VERDADEIRAMENTE de si. Aprender a nutrir o corpo e a alma. Aliviar o sofrimento. Aceitar os desafios e o corpo. Honrar a si mesmo por tudo que fez até aqui e por tudo que o corpo faz para manter a saúde pessoal.

Ficar saudável é o que ajuda no peso final de um programa de emagrecimento, que visa o que é naturalmente saudável e sustentável para cada pessoa.

Lembrando que Mindful Eating é:

Comer de maneira consciente

Prestar atenção na comida

Comer quando tiver fome

Deixar de comer quando estiver satisfeita

Se reconectar  com seus sinais internos de fome e saciedade

O programa MB-EAT (consciência alimentar baseada em mindfulness) visa um re-aprendizado sobre o comer, a cuidar profundamente de si, a se mover, a gerenciar o estresse e as emoções e o comer emocional; perceber pensamentos, ações e sentimentos (estar presente) que permeiam a alimentação. Apesar da simplicidade os resultados podem ser profundos…

As abordagens alimentares baseadas em Mindfulness não são sobre tabelas e dietas pré determinadas e sim sobre como comer conscientemente e adquirir uma relação proveitosa com a comida, nas quais cuidar-se é muito mais uma celebração do que uma obrigação. Aprende-se a aceitar e abraçar o seu corpo como um amigo distante, que por muito tempo ficou perdido.

CONCLUSÃO

Nada pode ser mais libertador do que aprender a realmente cuidar de si mesmo. Não espere emagrecer para começar a viver!

FONTE: Mindful Eating Brasil

Fonte: Flowing