• 10 outubro, 2017

Autocompaixão, imagem corporal e transtornos alimentares

Nosso #degustandosaberes trouxeram temas como: o peso do sentimento de culpa na alimentação e também a prática de dietas que pode desencadear uma relação deturpada com o corpo, com a comida e consigo mesmo.

Hoje, em nossa #porçãodeconhecimento se inicia a conversa de como a autocompaixão se insere nesse contexto com o artigo: “Autocompaixão, imagem corporal e transtornos alimentares: Uma revisão de literatura”, publicado esse ano pela revista científica Body Image.
Os autores iniciam mencionando que alguns estudos têm investigados os fatores de proteção que podem alterar os elementos relacionados à imagem corporal e patologias associada à alimentação.
A autocompaixão é definida no artigo como uma construção baseada no reconhecimento de que o sofrimento, o fracasso e a inadequação fazem parte da condição humana, e que todas as pessoas – incluídas a si mesmas – são dignas de compaixão.

Esta construção possui três dimensões:

(a) auto bondade, ser gentil e compreender a si mesmo, em vez de engajar em autojulgamento e autocritica,

(b) Mindfulness, trazendo consciência para os pensamentos e sentimentos aversivos em vez de sobre-identificação com os mesmos,

(c) condição humana comum, buscando a visão da experiência de um individuo como uma extensão natural vivenciada por todos os indivíduos, em vezes isolamento.

A revisão de literatura em questão utilizou 28 artigos com correlatos empíricos de autocompaixão, apoio teórico e empírico por trás de intervenções para aumento da autocompaixão, e as associações entre autocompaixão e psicopatologia. Segundos os autores, nenhuma revisão até o momento, examinou a implicação da autocompaixão como fator de proteção no contexto da imagem corporal e patologias associada à alimentação, lacuna abordada nesta revisão sistemática.

A literatura propõe que a autocompaixão pode operar como fator de proteção contra a imagem corporal distorcida e patologias relacionadas à alimentação através de quatro caminhos:

SEÇÃO 1: REDUZINDO DIRETAMENTE A IMAGEM CORPORAL DISTORCIDA E O COMER PATOLÓGICO
Os estudos que foram incluídos nesse contexto avaliaram o impacto da autocompaixão na sintomatologia dos transtornos alimentares e observaram que esta se associa a menores níveis de sintomas e melhores desfechos no tratamento. Nessa análise, o medo da autocompaixão como o observado no relato “Eu sinto que eu não mereço ser gentil e perdoar a mim mesmo” surgiu como uma forte preditor de transtornos alimentares em mulheres canandenses.

SEÇÃO 2: EVITAR A OCORRÊNCIA INICIAL DE FATORES DE RISCO COMO, POR EXEMPLO, A INTERNALIZAÇÃO DE UM IDEAL DE MAGREZA
Nessa seção foi avaliada a associação da autocompaixão e os fatores de risco para o desenvolvimento de patologias associadas à alimentação, incluindo fatores socioculturais, imagem corporal distorcida e comportamento alimentar. Ao acessar o modelo de influência destaca-se a mídia, família e pressões relacionadas à aparência dos amigos, e os estudos observaram que a autocompaixão foi negativamente associada a esse modelo, assim como a internalização do próprio ideal de magreza. Outros estudos mostraram também a autocompaixão associada a menor comparação da aparência, vergonha, insatisfação e vigilância do corpo.

Vale ressaltar a associação positiva entre a autocompaixão e os fatores de proteção: comer intuitivo, comer com atenção plena, apreciação corporal e a flexibilidade da imagem corporal, este último definido como um estilo flexível, em que se possam manter as cognições negativas (e.g. insatisfação corporal) sem existir necessidade de evitar, fugir ou recorrer a comportamentos alimentares desadequados (TAVARES, 2012).  Ao ressaltar essas associações os autores se questionam se a autocompaixão influencia nos transtornos alimentares como descrito na seção 1 ou se essa relação seria parcialmente ou inteiramente mediada por outros constructos, como os fatores de proteção mencionados no inicio desse parágrafo.

SEÇÃO 3: INTERAGIR COM OS FATORES DE RISCOS E INTERROMPER SEUS EFEITOS DELETÉRIOS
Neste contexto, a autocompaixão aparece com um potencial de amenizar as pressões de magreza imposta pela mídia, mensagens de comer restritivo, Índice de Massa Corporal e várias dimensões da imagem corporal.

Apesar de várias exceções, há provas preliminares suficientes de que a autocompaixão pode proteger, interagindo com vários fatores de risco de diversos desfechos negativos relacionado com o corpo e transtornos alimentares, para reduzir a probabilidade de tais resultados.

SEÇÃO 4: INTERRUPÇÃO DA CADEIA DE MEDIAÇÃO ATRAVÉS DO QUAL OS FATORES DE RISCOS OPERAM
Esta última seção ilustra os múltiplos caminhos protetores pelos quais a autocompaixão pode operar:
1°: Reduzir diretamente os resultados mal adaptativos como a desinibição alimentar
2°: Impedir a ocorrência inicial de um fator de risco como a desinibição alimentar no caso, por exemplo, da bulimia alimentar.
3°: Evitar o consumo de alimentos proibidos na desinibição entre os comedores restritivos
4°: Amortecer dois fatores de risco (isto é, o consumo de alimentos proibido e a desinibição) entre os comedores altamente restritivos, apoiando parcialmente o postulado de que a autocompaixão interrompe a cadeia através da qual os fatores de risco operam.

O artigo relata um ensaio clínico com 228 mulheres com preocupações relacionadas à imagem corporal distribuídas aleatoriamente em 2 grupos: grupo controle e grupo que recebeu 3 semanas de protocolo de autocompaixão baseado em Mindfulness. Após três semanas, comparadas com o controle, as mulheres que receberam a intervenção obtiveram melhora dos níveis de autocompaixão, apreciação corporal, e diminuíram a insatisfação e vergonha do corpo, a autoestima baseada na aparência, além disso, esses achados foram mantidos por três meses após o termino da intervenção.

Como conclusão os autores observam que os estudos apoiam fortemente o papel da autocompaixão como um fator de proteção em relação ao corpo e os aos resultados associado aos transtornos alimentares. Ainda, ressalta-se a autocompaixão como promoção de outros fatores protetores. Outras pesquisas são necessárias para avaliação mais abrangente e rigorosa dos achados reportados nesta revisão sistemática.

FONTE: Mindfulness Eating Brasil

Fonte: Flowing