Eu sempre soube que meu caso era grave. Sempre soube que a pouca maturidade que tenho em termos profissionais e emocionais simplesmente desaparece quando tenho a chance de me comportar como um moleque de 11 anos de idade. Hoje a coisa se agravou. Vi, no box do meu banheiro, que meu namorado comprou um produto qualquer da marca Palmolive. Comecei a rir porque tive uma ideia brilhante. Peguei um pedaço de fita crepe e cobri a última sílaba da marca, resultando em “Palmoli”.  Ri horrores e saí do banheiro achando que aquilo era uma obra prima, imaginando a reação do meu namorado quando visse o resultado. Parei por alguns instantes, lembrei que tenho 28 anos e fiquei um pouco preocupada comigo mesma.

Sei que não estou sozinha no que diz respeito a este problema de total imaturidade em determinados assuntos. Estimo que pelo menos 20% da população mundial sofra do mesmo mal. Não sei se é um problema neurológico, mas parece-me genético, uma vez que meu pai não é muito melhor do que eu nesse quesito.

Nós, os eternos moleques de 11 anos, temos alguns traços de comportamento razoavelmente fáceis de identificar.

1.Apelidar pessoas da pior forma possível: pessoas que sofrem deste problema não sabem apelidar as pessoas de forma normal como Mari, Dani, Edu e Jorginho. Apelidamos pessoas com nomes que as associem a animais com os quais elas se parecem, características físicas de destaque ou comportamentos peculiares. O Rino, o Zureba, o Zé Merdinha, o Cussão.

2. Não saber lidar com nenhum nome que tenha conotação sexual: Pinto é a ponta do iceberg. Não conseguimos lidar com dezenas de nomes, é um inferno. Rego, Sacco, Pinton, Gina, Pica, Bilal, Sacconi, Jacinto. Ninguém escapa. Ou melhor, nós não escapamos de nenhum deles.

3.Não saber lidar com absolutamente nenhuma bobagem que tenha uma mínima conotação sexual: Palmolive é apenas um exemplo. Oferecer linguiça num churrasco será sempre um problema. Lembrar-se que o campeonato alemão de futebol chama-se Bundesliga também. Falar sobre verdura será sempre um problema. Encontrar alguém que chama-se Mario também.

4.Não saber utilizar as tecnologias de forma normal: não deveríamos ter acesso à tecnologia. Não mandamos áudios que possam ser abertos em público. Não utilizamos o áudio para finalidades normais. Mandamos fotos e memes que nunca deveriam ter existido. Demoramos para responder mensagens sérias e somos extremamente rápidos para repassar as coisas mais inúteis da história.

5.Não se cansar das mesmas piadas há anos: especialmente se forem trocadilhos. Especialmente se tiverem duplo sentido. Especialmente se tiverem palavrões. Todo mundo já conhece? Não tem problema. A gente conta mesmo assim, porque o legal é contar e não os outros rirem.

6.Tentar imitar pessimamente algumas figuras públicas: Silvio Santos. Faustão. Galvão Bueno. Marília Gabriela. Datena. Amaury Junior. Raul Gil. Ana Maria Braga. Sérgio Mallandro. Luciano Huck. Simplesmente não tem graça. Há anos. E a gente simplesmente não desiste.

7.Não saber superar histórias do passado: meninos de 11 anos não superam coisas que aconteceram mês passado. Nós não superamos coisas que aconteceram há 20 anos. Um tombo da sua irmã em 1998, um erro de português de um amigo em 2001, uma calça que rasgou na bunda em 2004. As histórias sempre voltam, quase todo mês.

8.Não saber lidar com questões intestinais: este é um momento no qual nos tornamos automaticamente indivíduos de 11 anos. Basta olhar o comportamento de um deles em relação a gases, diarreia ou qualquer outra questão do gênero. Somos absolutamente iguais a eles.

9.Não saber a hora de parar de falar palavrão: chegou o chefe, chegou a sogra, chegou a tia avó, chegou o priminho de 3 anos. E os palavrões simplesmente fluem, por mais que a gente tente se policiar. Ficamos tensos, tentamos nos esquivar e… Não adianta nada.

10.Amar fotos nas quais as pessoas saíram bizarras: pessoas maduras percebem que os amigos ou parentes saíram mal na foto e simplesmente apagam as mesmas. Nós guardamos aquelas fotos a sete chaves. Mandamos nos grupos. Aproximamos o rosto. Postamos em redes sociais. Transformamos em memes. É mais forte do que nós.

Enfim. Não é uma vida fácil, nem é uma opção. Longe disso. A vida seria mais fácil se nós não tivéssemos tantas crises de riso, cujas justificativas são simplesmente inaceitáveis. E o pior é que nós acabamos nos aproximando cada vez mais de pessoas igualmente imaturas. Amigos, parentes, namorados, cônjuges. E isso nos tira qualquer possibilidade de superação. Eu já desisti de amadurecer nesses assuntos. Sigo achando que a fita crepe no Palmolive é mesmo uma obra prima.

FONTE: Blog Estadão – Por Ruth Manus