• 13 novembro, 2019

Aprender a viver com mais saúde é uma questão de todas as gerações

Karla Giacomin, médica geriatra consultora da Organização Mundial da Saúde, fala sobre como é possível viver mais e melhor

Que idade você acha que tem?

“Que idade você teria se não soubesse a idade que tem? Um americano, Leroy Paige, jogou beisebol até os 59 anos e era questionado por isso. Essa era a resposta que ele dava. Em um tempo de longevidade, não é a idade mais o que nos determina e define. São as oportunidades que temos e aproveitamos durante a vida.”

Como está a sua saúde?

“’Comparado a uma pessoa da sua mesma idade e gênero, você diria que a sua saúde hoje é…?’ A reposta a essa pergunta é o indicador mais potente sobre saúde que se conhece. Quem acha que a saúde é boa ou muito boa, de fato tem uma saúde boa ou muito boa. Quem acha que a saúde está ruim ou muito ruim vai procurar ajuda, porque está mal, porque isso é determinante. Essa é uma pergunta que a gente deve se fazer.”

Você está bem informado?

“Outra pergunta que gostaria que vocês pensassem: o quanto vocês se consideram informados sobre a saúde? Em relação a doenças profissionais, novas epidemias, aos riscos relacionados ao meio ambiente, à depressão, ao mal de Alzheimer, a infecções sexualmente transmissíveis, o que vocês sabem sobre isso? E em relação ao câncer, à contracepção, à vacinação, ao consumo de álcool e de tabaco? Você se considera muito bem informado, informado, mal informado ou não sabe?”

Como você se sente?

“E, para você, o que significa saúde? Será que falamos a mesma coisa? A saúde que eu compreendo é a mesma saúde que você está compreendendo? Esse tema é tão vasto, tão delicado, tão fundamental e às vezes pouco compreendido. Como você se sente? Está satisfeito com a vida? Você se aborrece facilmente, se sente desamparado, prefere ficar em casa em vez de sair para fazer outras coisas? Você se sente inútil? Dependendo dessas perguntas, isso me dá uma dica que seu humor não anda tão bom, que está precisando de ajuda.”

Novos companheiros de viagem

“Você tem mais de 50 anos? Algum médico já disse que você tem alguma dessas doenças: hipertensão arterial, diabetes, artrite, osteoporose, doença coronariana, AVC, câncer e depressão? A partir da meia idade a gente começa a ter sim alguns companheiros de viagem. A melhor maneira de lidar com eles é arrumar o melhor quarto da casa, cama e toalha e falar falar vai bem, mas me deixa bem também. Não é tratar a doença como visita, mas tratar a doença com algo que vem pra ficar com a gente. Esse é o conceito de doença crônica, uma doença que dura pelo menos seis meses, que muitas vezes não tem cura e com a qual precisamos aprender a conviver e a cuidar.”

Você tem medo de quê?

“Já que estamos falando de envelhecer e já que envelhecer deixa as vezes as pessoas um pouco desconfortáveis, você tem medo de alguma doença? Doenças relacionados ao álcool e ao tabaco, doenças profissionais, acidentes que acontecem dentro de casa, de novo as epidemias, doenças cardiovasculares. Você tem medo? Porque, se você tiver, vá descobrir sobre elas.”

O que determina sua saúde

“O que você acha que determina a sua saúde hoje? Se você for ao médico quatro vezes no ano, você vai ter passado, na melhor das hipóteses, quatro horas com ele. Todas as outras estão por sua conta. Na vida da gente não falta informação. Mas para que eu transforme a minha informação em cuidado, essa informação tem que me gerar algum interesse de transformação e eu tenho que considerar aquele um problema meu. Enquanto achar que é do outro, eu não mudo nada. Então, na prática, 40 a 50% de tudo que é saúde da gente não depende da atuação do serviço de saúde e nem do profissional de saúde, mas depende das condições socioeconômicas e do estilo de vida. No nosso meio, a raça, a cor, não é uma questão genética. É uma questão que tem a ver com as oportunidades ou falta delas. Da mesma forma, predisposição genética só responde por 20 a 30% da nossa saúde. Isso nos deixa uma grande margem para mudar, para assumir esse conteúdo.”

Década do envelhecimento saudável

“Investir na saúde depende de cinco coisas: alimentação saudável, não fumar, beber com moderação, praticar atividade física e ter amigos. Por isso a OMS definiu que de 2020 a 2030 vamos experimentar a década do envelhecimento saudável. Espero que isso repercuta no nosso país. Porque os temas prioritários da saúde estão definidos há muito tempo: enfrentar álcool, tabaco, garantir mobilidade segura, garantir alimentação adequada, garantir atividade física, promover a cultura da paz e desenvolvimento sustentável.”

Descronologização da vida

“Na nossa contemporaneidade, isso tudo acontece diante de um momento chamado descronologização da vida. Não temos mais idade para formar, casar, para ter filho, tudo isso é possível em qualquer idade. A longevidade nos proporciona inúmeras chances para viver com mais saúde. Mas onde as pessoas buscam informações? Devo comer gordura ou não, comer glúten ou não, usar ou não protetor solar? É assim que a gente vive. A reposta é simples: sim, não ou talvez. É no caso a caso que a gente se coloca diante da possibilidade de cuidado. Mas todos precisamos melhorar o nosso conhecimento em saúde, tanto em nível individual como da comunidade. E não só conhecer, mas agir, fortalecer a autonomia a autoestima e para isso temos de saber comunicar de forma simples e acessível.”

O que você está fazendo?

“Quais são nossos desafios? Gostaria que vocês saíssem daqui com três perguntas: o que você deveria fazer? O que você poderia fazer nas circunstâncias atuais e que não está fazendo? E o que de fato você está fazendo? Eu falo da sua saúde. Ninguém vai tomar conta dela por você.”

Quanto mais cedo melhor

“Em toda mudança a gente assume um risco, mas não mudar também é assumir um risco. Se você precisa mudar, mude, porque as nossas metas não mudaram. As nossas metas são garantir saúde, melhorar a nossa capacidade de agir na comunidade e nosso próprio cuidado e ter qualidade de vida. A gente não consegue sozinho, a gente quer fazer junto. A gente propõe que você faça de tudo para melhorar a sua autonomia, autoestima e autocuidado. Quanto mais cedo melhor, nunca é tarde para mudar. Trabalhar para que mais pessoas cheguem lá. Aprender a respeitar as escolhas, a valorizar as diferenças, mas também diminuir a ignorância e diminuir o nosso comportamento de risco.”

Todas as gerações

“Aprender a viver com mais saúde não é uma questão de uma geração e sim de todas as gerações. Se a gente tem um pré-natal bom, um parto bom, uma infância com oportunidades, a gente vai envelhecer melhor. E os nativos digitais falam de uma outra linguagem, eles aprendem de uma outra maneira. Nós contemporâneos temos de aprender essa nova linguagem, se não a gente fica de fora e todo mundo sai perdendo quando uma geração fica de fora. Pessoas de todas as idades precisam se manter curiosas e aprendizes ao longo da vida.”

Ser positivo

“Isso vai exigir de nós, algumas mudanças: aprender a ir mais devagar, ser positivo não importa como, viver em mais contato com a natureza, aprender a se divertir enquanto joga o jogo da vida, relaxar, meditar, desplugar e ter fé no homem, na humanidade, na espiritualidade. Então a saúde não é questão da ciência e da idade, ela é reflexo da vida e dos riscos que a gente assume a partir das nossas escolhas e circunstâncias.”

FONTE: Viva a Longevidade

Fonte: Flowing