• 23 julho, 2024

Quando o otimismo passa do limite: conheça a positividade tóxica

Você já ouviu falar de positividade tóxica? Caso não, provavelmente, já sentiu seus efeitos na pele em algum momento da vida. Muitas vezes, quando nos vemos diante de uma situação difícil e compartilhamos isso com o outro, ouvimos frases que, em vez de nos motivarem, pioram o mal estar, como: “bobagem, você tem que ignorar isso e ser feliz!” ou “pense pelo lado positivo, isso pode fazer bem a você.”

É comum que, diante dessas situações, a pessoa fique até constrangida em desabafar, pois a positividade tóxica tende a minimizar os problemas e angústias íntimas, tratando-as como assunto de menor relevância.

Para entender melhor os limites entre o otimismo e essa visão positiva exagerada, acompanhe nosso post!

O que é positividade tóxica?

Quem já leu o clássico da literatura infanto juvenil “Poliana”, de Eleanor H. Porter, certamente conhece o “jogo do contente”. No romance, a personagem principal é uma criança que aprendeu com seu pai a sempre tentar extrair algo de positivo em qualquer situação, por pior que ela seja. Pode parecer que não há mal nenhum nisso, mas ignorar a dor, focando apenas no lado positivo das coisas, é um erro que pode afetar a saúde emocional de uma pessoa.

Esse é um livro do século passado, foi escrito em 1913. Hoje, percebeu-se que há um limite tênue nesse comportamento, que divide a positividade tóxica e a psicologia positiva.

Os pilares desta última são baseados no acolhimento das emoções, mesmo que elas sejam desagradáveis. Assim, é muito importante respeitar e entender os próprios sentimentos. Não fazer isso constitui a felicidade tóxica, que é quando as emoções dolorosas ou negativas ficam negligenciadas.

Muitas vezes, a pessoa que está sofrendo se vê obrigada a “sentir-se bem”, como se fosse uma fraqueza ou um erro admitir que há tristeza, melancolia, frustração ou sentimentos semelhantes. Isso se torna tóxico porque não é compatível com a vida real, afinal, quem vivencia apenas felicidade todos os dias?

Como a positividade pode ser tóxica na vida atual?

Uma pessoa que está passando por uma situação emocionalmente desgastante já se sente sozinha e, muitas vezes, anseia por algum apoio. Muito se fala hoje sobre empatia: ela consiste, antes de tudo, em se colocar no lugar do outro para entender e respeitar suas emoções e sentimentos.

Entretanto, esse ato de empatia frequentemente é confundido com a necessidade de apresentar palavras de conforto ou soluções aos problemas de quem sofre. O fato de diminuir a dor da pessoa pode aumentar a carga sobre os ombros dela, que ainda passa a se sentir errada por estar sofrendo.

Familiares e amigos tendem, com frequência, a tentar silenciar essas emoções, o que não ajuda em nada. O efeito, muitas vezes, é o oposto. Ao ouvir frases como “basta pensar positivo”, “poderia ser pior” e “veja pelo lado bom”, a pessoa se vê acuada, tendo que negar seu sofrimento, e não consegue sequer relaxar a mente. Então, ela se afasta, pois sente que não tem permissão para falar do que lhe dói.

Qual é a relação entre positividade tóxica e a temática de intoxicação eletrônica?

Essa tendência a negar as próprias vulnerabilidades é muito fortalecida com a intoxicação eletrônica. Muito já foi falado sobre intoxicação eletrônica na infância, com crianças viciadas em videogames. Mas, hoje, grande parte das pessoas passa o dia conectada às redes sociais.

Quando focamos muito no que as pessoas publicam em suas redes sociais, tendemos a fazer comparações que podem ser desleais conosco, já que os influenciadores digitais vendem a ideia de perfeição.

Quem acompanha a vida de celebridades nas mídias sociais acaba se frustrando com suas próprias vivências, pois acha que o seu ídolo está feliz o tempo todo e é bem-sucedido em tudo que faz, o que não é real. Essa comparação é extremamente complicada, pois ela é feita confrontando a vida real com um modelo que não existe.

Para ajudar a explicar o efeito da intoxicação eletrônica sobre nosso psicológico, podemos falar de outro livro clássico: “O Mágico de Oz”, de L. Frank Baum. Nele, uma garotinha é transportada a um lugar distante, onde tem que procurar o poderoso mágico, e essa seria a única forma de voltar para casa.

No caminho, ela encontra moradores do lugar e faz amizades com indivíduos peculiares, que representam as pessoas comuns: cada qual com seus defeitos e anseios. Quando enfim eles encontram Oz, descobrem que ele não era tão poderoso e místico quanto havia sido propagado. Era apenas uma pessoa comum.

É preciso ter consciência de que, por trás da imagem vendida nos algoritmos das redes sociais, cuja maior intenção é reter a atenção do usuário e convertê-la em formas de lucro, existem pessoas reais, com problemas, defeitos, angústias, frustrações e anseios. Por isso, a busca incessante pela felicidade vem ganhando espaço em palestras e livros, incentivando as pessoas a um otimismo cego e à alegria eterna.

Várias são as publicações na internet que induzem o seguidor a se sentir fora de um alto padrão, cheias de falas otimistas e em um êxtase de felicidade que exige a negação de outros estados emocionais.

Precisamos refletir sobre o excesso de otimismo e a repressão de sentimentos dolorosos. Não tem problema algum buscar a felicidade, mas não podemos abandonar nossos sentimentos com base nisso.

É possível ser otimista e pensar positivo sem ser tóxico?

Sim, é perfeitamente possível e saudável olhar o lado bom de tudo que acontece na vida, mas desde que você se permita enxergar a si mesmo como um ser humano com emoções diversas (sendo algumas delas difíceis de lidar).

Ao avaliar a si mesmo com tolerância e acolhimento, você pode transformar as lições mais difíceis em aprendizado e fortalecimento pessoal, mas é importante não negar os sentimentos dolorosos que elas causam.

Além disso, não se pode acreditar que o pensamento positivo vai evitar que incidentes e infortúnios aconteçam. Todas as pessoas estão sujeitas a imprevistos e dores, e o melhor que podem fazer é trabalhar suas emoções, se entender e cuidar de si mesmas, para aprenderem a reagir e encarar esses acontecimentos da melhor forma. Quanto mais aceitarmos nossas fragilidades, mais flexíveis seremos para nos ajustar novamente.

Como identificar a positividade tóxica

Alguns sinais de positividade tóxica podem ser identificados em nossas próprias falas e nos argumentos que ouvimos quando buscamos apoio emocional. Por exemplo:

● Comparações: são muito comuns e usadas para amenizar a dor quando se tenta estabelecer uma escala de sofrimento com frases como “eu já passei por algo pior e não morri”;

● Sugestões de pensamento positivo: acontece quando alguém insiste para que você se sinta feliz, demonstre alegria, pense coisas boas e pratique autocuidado como forma de sanar sua dor;

● Frases prontas: quem quer ouvir “siga em frente” e “não desista” no meio de uma crise de ansiedade ou estresse? Em alguns momentos, essas mesmas palavras podem ter efeito positivo, mas é preciso, primeiro, ouvir a si mesmo ou o que o outro tem para desabafar;

● Invalidação: é quando alguém tenta diminuir sua dor ou sofrimento. Imagine avisar que não vai sair por causa de um mal-estar geral e ouvir: “mas é só um resfriado!”. Desagradável, não é mesmo?

Por isso, é importante reparar no próprio comportamento, para não cometer o erro de invalidar a dor alheia ou tentar apenas suprimi-la. Desenvolva a empatia: pratique ouvir o outro sem fazer nenhum juízo de valor sobre a dor, apenas se dispondo a estar presente e oferecer apoio emocional.

Da mesma forma, compreenda-se. Entenda que, em alguns momentos, é natural sentir dor, e é preciso acolher seus sentimentos desagradáveis.

Como saber que é a hora de buscar um profissional?

Pode ser difícil lidar com certas situações sozinho. Por isso, às vezes, o acompanhamento psicológico é a melhor saída. Na psicoterapia, a pessoa desenvolve o autoconhecimento e passa a administrar seus sentimentos de uma forma melhor.

Por isso, ao passar por um sofrimento prolongado, do qual você não consegue se desvencilhar, não negue suas emoções ou pense que tem obrigação de se sentir bem e feliz.

Um profissional preparado pode ajudar a encontrar o equilíbrio, de forma saudável, sem partir para a positividade tóxica, tentando suprimir dores que posteriormente podem desencadear um problema psicológico mais grave.

Fonte: texto retirado do blog blog Unimed Campinas
Link: https://www.unimedcampinas.com.br/blog/saude-emocional/quando-o-otimismo-passa-do-limite-conheca-a-positividade-toxica

Fonte: Flowing