• 19 dezembro, 2020

Solitude não é solidão

Estar sozinho na sociedade atual levanta uma pergunta importante sobre identidade e bem-estar.

Estar sozinho na sociedade atual levanta uma pergunta importante sobre identidade e bem-estar. 

Como chegamos, pelo menos no mundo desenvolvido, a um momento cultural que valoriza a autonomia, a liberdade pessoal, a realização, os direitos humanos e, acima de tudo, o individualismo mais do que nunca na História da humanidade, mas, ao mesmo tempo, esses indivíduos autônomos, livres e realizados estão apavorados em ficar sozinhos? 

O negócio é que, Covid-19 à parte, cada vez mais os jovens precisarão desenvolver habilidades para ficarem felizes na própria companhia. Entre 1999 e 2019, o número de adultos morando sozinhos aumentou em quase 25%, de 6,8 milhões para 8,2 milhões, e este número deve continuar crescendo. Seria trágico se todas essas pessoas estivessem condenadas à má saúde mental e à solidão. 

Por que, em geral, ficar sozinho mina a saúde mental, o bem-estar e o contentamento? Acreditamos que exista uma estranha confusão cultural aqui. Consideremos o Homo sapiens uma espécie “inerentemente social” – nosso principal mito da criação (o Livro do Gênesis) ensinou que “não é bom que o homem esteja só” –. Assim, dedicamos um tempo extraordinário ensinando as crianças a serem sociáveis. 

E se, em vez de ser uma tremenda desvantagem, estar sozinho fosse considerado uma oportunidade de autodesenvolvimento? A solitude parece ser mais ou menos uma necessidade para a criatividade, por exemplo, seja desenhando, pintando, escrevendo, aprendendo a tocar um instrumento, cozinhando ou executando algum outro tipo de atividade criativa. Além disso, ela é muito útil para quem deseja aprofundar sua espiritualidade. É por isso que cristãos e budistas incentivam retiros: períodos de isolamento voluntário e, normalmente, silêncio. 

Também sabemos que a solitude praticada aumenta o autoconhecimento e a independência. Isso nos torna menos vulneráveis ao abuso emocional e mais capazes de sairmos de tais situações. Isso, por si só, pode fazer com que sejamos melhores amigos quando nos relacionamos, porque ficamos menos carentes. 

Passar um tempo a sós é, na verdade, passar tempo com a pessoa que você conhece melhor do que ninguém e que te conhece de uma maneira intima também. A solitude aprofunda o autoconhecimento. O interessante é que as palavras “solitude” e “solidão” deveriam ter os mesmos significados: afinal, “só” e “sozinho” são sinônimos. No entanto, coragem e determinação se encaixam em apenas um estado. 

A solidão é um sentimento negativo e triste. Por outro lado, a solitude é uma alegria. E como a prática leva à perfeição… Pratique! 

FONTE: The School of Life

Fonte: Flowing