• 1 dezembro, 2020

A dança e o teatro como construtores de autoestima


Cena 1: Uma senhora vai para um atendimento médico, mas tem dificuldades de se expressar. Ela fala pouco, responde apenas o que é perguntado, ouve o diagnóstico do médico, fica com dúvidas, com vontade de perguntar, mas a timidez a impede. Ao chegar em casa, não consegue dizer aos filhos como foi a consulta e o que deve ser feito.

Cena 2: Um casal de idosos resolveu que iria curtir a vida e conhecer o mundo viajando em cruzeiros. O passeio era legal, mas o que eles mais queriam fazer mesmo era participar dos bailes. Só que não iam para pista. O motivo? O medo e a vergonha de errar um passo e fazer feio na frente de estranhos.

O que há de comum nessas duas pequenas histórias? Uma “força” maior (medo ou vergonha), que impossibilitou que esses idosos desfrutassem de uma experiência ou exercessem um direito.

As cenas acima foram relatadas por Elton Victor e Luana Silva para o Viva a Longevidade. Ambos usam a arte como ferramenta para a promoção da autoestima de pessoas idosas e, neste segundo semestre, estiveram à frente, respectivamente, das aulas de teatro e dança do Programa Longevidade 2020.

Como as artes melhoram a autoestima dos idosos

Como já falamos, os exemplos que abrem este texto são de situações reais. E, graças ao ensino da arte, os protagonistas das histórias conseguiram fortalecer a sua autoestima e encarar os muitos desafios que o envelhecimento impõe. A senhora da cena 1 já se sente segura para conversar de igual para igual com o médico e já não volta para casa cheia de dúvidas após uma consulta. O casal de idosos, por sua vez, não teme mais a pista de dança, pelo contrário: já construíram repertório suficiente para dançar alguns ritmos.

Como? Bom, quem ajuda a responder como funciona esse processo de fortalecimento/recuperação da autoestima com idosos por meio da dança e do teatro são os próprios professores.

A construção da autoestima na dança

Tudo começa em entender o que leva o idoso a procurar a dança. Boa parte desse público o faz para realizar um sonho que não teve muito espaço lá atrás. Depois, a construção da autoestima passa por mostrar que, sim, ainda é possível dançar. Como? Com uma coreografia “inclusiva”. “As coreografias são adaptadas para que todos consigam fazer. Então, a gente mostra que eles podem. Só é necessário tempo”, explica a idealizadora do projeto A Dança Comvida.

Depois de entender o propósito e incluir o idoso na dança, chega o momento de começar a colher os benefícios que ajudam a aumentar a “barrinha” de autoestima de cada um. Afinal, durante a aula, existe a interação com os demais alunos. “Você vê que está todo mundo aprendendo e no mesmo ritmo, o que dá confiança”, explica Luana.

O próximo passo é a criação de vínculo com as pessoas e a (re)descoberta de que o mundo não fica restrito às paredes de casa. “Aí eles conhecem o baile, começam a entender como funciona a dança, como interagir. Até o erro, que antes era uma vergonha, muda de significado”, conta a professora. E aí, percebeu a barrinha da autoestima subindo?

A construção da autoestima no teatro

“O teatro oferece uma série de ferramentas que contribuem diretamente para o desenvolvimento pessoal”, diz Elton Victor, ator, diretor e professor de teatro e, mais recentemente, youtuber (com o canal Terceiro Ato Para Idosos).

A construção da autoestima no teatro é apoiada em alguns pilares.

O primeiro deles é o reconhecimento. “É valorizar a pessoa, sua história e conhecimentos, quaisquer que sejam eles”, explica o professor. O segundo pilar é a conscientização de que todos são importantes, têm voz e fazem a diferença. “A pessoa vai percebendo que pode falar e que não será julgada por isso”.

Outro pilar importante é o trabalho corporal e vocal e os diferentes jogos e exercícios que trabalham diferentes aspectos, como memória, atenção, criatividade e imaginação.

Na opinião de Elton, todo esse processo de construção de autoestima vai, no fim, levar à desmistificação do processo de envelhecimento. “A pessoa olha para si e diz que está envelhecendo bem, que consegue ver que tem autonomia, que faz as coisas que quer e coisas que nem conseguia”, disse Elton.

Além disso, o teatro também contribui para a socialização, ampliação de repertório cultural e artístico, provoca reflexões e lembra o idoso que ele ainda é protagonista de sua vida. 

Fonte: Viva a Longevidade 27/11/20

Fonte: Flowing