• 27 junho, 2019

“Os seniores precisam entrar na conversa digital”

Dudu Balochini, da Senior Geek, mostra como a tecnologia pode ajudar as pessoas a se reinventar depois dos 50.

Ao passear pelo campus do Google para startups, em São Paulo, não é raro ver jovens empreendedores barbados trabalhando em seus computadores. Mas só um deles tem fios brancos despontando na barba: Dudu Balochini, que completa 58 anos no dia 26 de junho, mesmo dia em que dará início à Jornada Digital Senior Geek, um ciclo de palestras e workshops realizado na Unibes Cultural, em São Paulo. A iniciativa é apresentada pela Bradesco Seguros.

Balochini trabalha com tecnologia desde os anos 80, e depois dos seus 50 anos, resolveu criar a sua própria startup, a Senior Geek, focada em educação digital para os seniores, com eventos presenciais e cursos online. “As pessoas têm um conteúdo dentro de si e não sabem como jogar nesse mundo de hoje”, afirma o empreendedor, em entrevista ao Viva a Longevidade (leia mais desse bate-papo, abaixo). “A ideia é fazer o sênior perder o medo, lembrar quem era e começar uma vida nova. Por que não?”

Tecnologia deve servir para conectar as pessoas, de diferentes idades.

Dudu, o que é ser um senior geek?
Eu acho que é tentar se conectar com o mundo, ser uma pessoa relevante dentro do mundo digital, traduzir ideias antigas para esse meio. As pessoas querem se expressar, mas não sabem como. A missão da Senior Geek é fazer com que se perca esse medo. Não precisa ser o Steve Jobs ou fundar a Microsoft. É só saber usar as ferramentas da tecnologia, para ser uma pessoa que se conecta com todas as gerações e que entende o que está acontecendo, e, assim, empreender na própria vida.

O que o inspirou a empreender?
Nessa idade, penso que eu sou uma evolução de mim. Eu estudo o tempo todo, quero ficar conectado para não me sentir velho. Achei legal esse negócio de startup. O projeto vai com o fluxo: quando não está divertido, sai fora. A Senior Geek começou em 2018, fazendo encontros para falar de tecnologia aos quem tem mais de 50. Chamei especialistas para falar de internet das coisas, direito digital, computação quântica, inteligência artificial… É um jeito de discutir a longevidade. O trabalho cresceu, e viramos uma startup com foco em educação.

“Hoje os mais velhos estão focados em empreender, porque muita gente está vendo que não vai conseguir se aposentar”
Por que é importante entrar nessa conversa digital?
Para se manter em atividade, para mostrar as ideias. Hoje as pessoas de 60 anos não são como os nossos avós eram lá atrás. Essas pessoas não vão morrer cedo, então têm que deixar a cabeça ativa. Assim, vão perdendo o medo de fazer coisas novas depois dos 50. Eu tenho 57 anos e fico animado: se essas pessoas conseguem, eu consigo também.

Tem muita gente que quer aprender tecnologia para empreender?
Sim, hoje os mais velhos estão focados em empreender, porque muita gente está vendo que não vai conseguir se aposentar, não consegue se inserir no mercado, e então tem que começar do zero. E não precisa ter medo disso, sabe? Eu sou um cara que começou do zero há três anos. Eu tinha esquecido as coisas que eu sabia há 30 anos, achava que o que eu estava fazendo estava ruim. Não estava ruim. Eu adorava o que eu fazia, era o jeito que eu fazia que não funcionava. Você vai lembrando, vai contando história, daí você se lembra da bagagem que tem e começa a ser você de novo.

Ou seja, a tecnologia pode ajudar nessa reinvenção depois dos 50…
Totalmente! Quando a gente chega aos 50, 60, a única maneira de viver é fazendo as coisas com propósito, uma coisa que seja relevante. Tem que reativar a memória, porque, na vida, às vezes a gente se esquece de quem a gente é. Eu parei, olhei e falei “pô, eu era aquele cara lá. Eu já fazia isso, comecei a trabalhar com a internet quando ela chegou ao Brasil”. As ideias têm que aflorar, a gente tem que perder o medo de fazer as coisas. Tem muita gente que pode ajudar.

“Quando a gente chega aos 50, 60, a única maneira de viver é fazendo as coisas com propósito”
Como os seniores podem perder o medo do digital?
Fazendo. As pessoas precisam tirar a ideia do papel, partir para o “você.com.br”. O pessoal que participa dos nossos encontros sai de lá fazendo coisas. A gente tem que estar ativo, o tempo todo conversando. Tá querendo fazer um projeto inovador? Escreve o plano. Uma amiga chegou e falou: “quero fazer um blog sobre as coisas que eu faço”. Foi lá e começou a fazer. No fim, ela disse: “agora eu sou digital, olha aí”.

O que é mais difícil: aprender a usar as ferramentas ou a pensar no mundo digital?
A pensar dessa maneira. A ferramenta as pessoas aprendem a usar em dois minutos. Tive alunos que pegaram o WordPress e já começaram a fazer tudo, sem ajuda. Mas tem que entender como tudo funciona, como é a internet. É simplesmente conhecer as possibilidades. Se vai usar ou não, é uma questão de cada um. Mas tem que saber que existem esses caminhos.

E o que é esse termo que você inventou, o B2S?
Olha, quando eu entrei nesse mundo das startups, inventei o B2S para ter um termo para nós (risos). B2S significa business to seniors (negócios para seniores), que é um impulso para fazer negócios na maturidade, trocar ideia e informação, fazer um networking. A ideia é pegar a pessoa que tem experiência e inseri-la no mundo digital. Baseado no Google Maps, ajudei uma amiga a desenvolver o Levanta e Vai, que é um geolocalizador para os seniores. Não é para ir ao supermercado, é para ir ao parque, ver um curso legal para fazer, conhecer um lugar onde eu possa fazer meditação.

Tem muita mulher participando dos seus eventos?
Ô, se tem! Tem muito mais mulher. E elas são mais participativas, mais dedicadas, têm mais empatia. Nesse primeiro ano, certificamos três Senior Geeks, todas mulheres. Uma tem 72 anos e está fazendo um blog para falar da vida. Outra tem 63 anos, está viajando pelo mundo e virou blogueira de saúde. E a outra é a Marília, que desenvolveu o Levanta e Vai. E mais duas devem ganhar o certificado em breve. Acho que vou ter até que mudar o nome, deixar mais feminino, porque são elas que mais atuam, né? A capacidade da mulher de se reinventar é muito maior.

“O sênior é a evolução de si mesmo.”

Qual é o trunfo dos 50+ no mundo da tecnologia?
O sênior é a evolução de si mesmo. Vivemos dilemas, como os jovens, mas eu acho o sênior muito mais colaborativo e mais empático, porque sente a necessidade de pedir ajuda. Quando as pessoas oferecem, aí o movimento acontece. No mundo da tecnologia tem essa competitividade, de um não querer contar a ideia por outro, para não ser copiado. Mas eles não inventaram nada, só estão traduzindo ideias que você já viu. Os seniores trabalham em grupos. Isso é que é legal: o movimento. Meu sonho é transformar a Senior Geek em uma aceleradora. Pegar os projetos que as pessoas têm, juntar as pessoas em torno de uma ideia e colocar em prática. Isso é impacto social, isso movimenta o mercado.

FONTE: Longevidade – Por Redação

Fonte: Flowing